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Por: Embrapa - Dionisio Luiz Pisa Gazziero, Fernando Storniolo Adegas. 

 

Introdução

Plantas do gênero Amaranthus, conhecidas popular- mente como caruru, são encontradas comumente nas áreas de produção de grãos em todo o mundo, inclusive no Brasil. Recentemente, foi registrada a presença de Amaranthus palmeri na região centro- -norte do Estado de Mato Grosso, causando grande preocupação ao meio rural por tratar-se de uma planta exótica extremamente agressiva (Figura 1), com risco potencial de reduzir a produtividade de soja, milho e algodão em aproximadamente 80% a 90%. Por: Embrapa - Dionisio Luiz Pisa Gazziero, Fernando Storniolo Adegas.

Foto: Dionisio Gazziero
Figura 1. Amaranthus palmeri é uma espécie invasiva com grande capacidade competitiva que pode levar a perdas significativas de produtividade

 

Amaranthus palmeri pode cruzar com outras es- pécies do gênero, inclusive transferindo genes de resistência a herbicidas. Também pode ser facilmen- te confundido com outras espécies que vegetam no Brasil, especialmente A. spinosus (caruru de espinho). Nas amostras de A. palmeri coletadas no Mato Grosso, em um projeto de extensão realizado pelo IMAmt, UNIVAG e UFMT, foram identificados biótipos resistentes aos herbicidas glifosato (inibidor da EPSPs), pyrithiobac-sodium e clorimuron-ethyl (inibidores da ALS.) Nos Estados Unidos, já existem biótipos resistentes a cinco mecanismos de ação. A partir da constatação dos primeiros casos no Mato Grosso, o INDEA-MT baixou Instrução Normativa que estabelece medidas fitossanitárias para con- tenção e erradicação dessa praga. Essas medidas se mostraram eficazes e no momento a espécie se encontra sob controle. No entanto, é recomendável que os produtores dos demais Estados do Brasil monitorem suas lavouras, para que rapidamente possam ser viabilizadas medidas de contenção, no caso da constatação de novos focos de infestação. É preciso estar atento para observar a presença de plantas com as características aqui descritas e para eventuais escapes de controle de caruru nas aplicações de glifosato e outros herbicidas. Em razão do potencial de disseminação e da agressividade de A. palmeri, é fundamental que qualquer novo caso seja comunicado ao assistente técnico responsável pela área de produção e às autoridades sanitárias, tanto estaduais quanto federais, para obtenção de maio- res informações, a fim de evitar ou postergar sua dispersão.

 

Características

Amaranthus palmeri apresenta alta variabilidade genética e fenotípica, mas algumas característi- cas ajudam a identificação e a diferenciação de A. spinosus e outras espécies existentes em nosso país. As mais comuns envolvem os pecíolos das folhas, que normalmente são iguais ou maiores que a lâmina foliar (Figura 2). Trata-se de espécie dioica, ou seja, apresenta plantas apenas com flores masculinas e outras apenas com flores femininas, sendo que essas últimas podem produzir sementes, independentemente de haver ou não polinização (Figura 3).

Foto: Dionisio Gazziero
Figura 2. O pecíolo de Amaranthus palmeri pode ser igual ou maior que o limbo foliar (A), enquanto nas demais espécies, ele é menor (B).

 

 

Foto: Dionisio Gazziero
Figura 3. Amaranthus palmeri possui plantas com inflorescência masculina e plantas com inflorescência feminina.

 

A inflorescência das  plantas femininas apresenta folhas rudimentares (brácteas) duras que, ao serem tocadas, dão  a sensação de picadas nas  mãos e nos dedos. Em algumas plantas, pode ser  observada uma  longa  inflorescência bem  destacada. As folhas são  arranjadas de forma simétrica no caule. Em A. spinosus, as  flores  masculinas e femininas estão em  uma  única  planta e ocorrem pequenos espinhos no ponto de interseção da folha  com  o caule que podem ser  confundidos com  as  brácteas da inflores- cência feminina de A.  palmeri  (Figura  4).  As duas especies não  possuem pilosidade no caule. Outras características aparecem eventualmente, como um pequeno espinho no final da nervura centraldas fo- lhas  de plantas jovens (Figura  5) e manchas brancas na folha, às  vezes em  forma de “V”,  que  podem complementar a identificação, embora possam apa- recer também em  A.  spinosus (Figura  6).

Foto: Daniela Tuesca
Figura 5. No inicio do desenvolvimento, eventualmente aparece um pequeno espinho no final da nervura central

 

Foto: Dionisio Gazziero
Figura 6. Manchas brancas podem ser encontradas em folhas de Amaranthus palmeri, mas também em Amaranthus spinosus.

 

Informações adicionais

Amaranthus palmeri possui elevada taxa fotossinté- tica, eficiência no uso da água, rápido crescimento e alta produção de biomassa em curto espaço de tempo (Figura 7). Na literatura, existem relatos de efeitos alelopáticos sobre outras espécies e infor- mações que uma única planta pode produzir de 100 mil a 1 milhão de sementes, dependendo das condi- ções em que se desenvolve.

É uma planta invasiva de grande agressividade, que se adapta com facilidade a diferentes ambientes e condições climáticas. Nos Estados Unidos seu controle era feito por diferentes herbicidas, mas o problema com essa espécie se agravou rapidamen- te após a constatação da resistência ao glifosato e aos herbicidas inibidores da ALS, do fotossistema II, dos inibidores da HPPD e da tubulina, bem como da existência de resistência múltipla a diferentes mecanismos de ação.

Essa rápida evolução da resistência aos herbicidas trouxe uma ameaça às alternativas de controle. Por isso, o monitoramento frequente e a identificação precoce, no caso do estabelecimento dessa espécie em outras regiões do Brasil, ajudarão na gestão pro- ativa e permitirão evitar prejuízos para a agricultura brasileira. Prevenção é a palavra-chave no manejo de plantas daninhas.

Foto: Dionisio Gazziero
Figura 7. Amaranthus palmeri apresenta dossel adensado e alta eficiência fotossintética.

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