Octubro 2025
Por: Mauricio Rodríguez, Ph.D.
mrodriguez@croplifela.org
Introdução
Na América Latina, a agricultura é a espinha dorsal das economias, alimentando milhões de pessoas e liderando exportações como a soja do Brasil, o milho da Argentina e as frutas da Colômbia. No entanto, este setor vital enfrenta desafios crescentes: pragas e doenças que ameaçam a produtividade, casos de resistência a pesticidas químicos tradicionais e uma pressão cada vez maior para introduzir novas tecnologias. É nesse contexto que entram os biopesticidas —soluções naturais derivadas de plantas, microrganismos e outros organismos que oferecem uma forma adicional de proteger as lavouras. Esses produtos não são apenas alternativas; são complementos poderosos aos pesticidas químicos, aumentando a eficácia geral enquanto minimizam os riscos à saúde e aos ecossistemas.
A urgência em acelerar a adoção de biopesticidas é evidente. O mercado desses produtos na região projeta um crescimento acelerado, de aproximadamente USD 2,17 bilhões em 2024 para USD 4,81 bilhões até 2029. Ao integrar biopesticidas com pesticidas químicos em programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP), os agricultores podem aumentar a produtividade, reduzir os custos associados à resistência de pragas e atender às exigências globais de resíduos em alimentos. Os biopesticidas são ferramentas ecológicas baseadas em ciência, que atacam pragas específicas com precisão. Quando utilizados em combinação com pesticidas químicos, geram efeitos sinérgicos para um melhor controle e maior sustentabilidade. Também veremos como superar as barreiras atuais por meio de políticas, pesquisa e educação que contribuam para acelerar sua adoção, garantindo a segurança alimentar da região.
¿Que são os Biopesticidas e qual é o seu Papel na Agricultura Moderna?
Os biopesticidas são substâncias derivadas de fontes naturais, como bactérias, fungos, vírus, plantas ou animais, utilizadas para o manejo de pragas, doenças e plantas daninhas. Seu modo de ação é geralmente específico para determinadas pragas, o que permite reduzir os riscos de efeitos indesejados sobre outras espécies.
A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) classifica os biopesticidas em três categorias principais: Pesticidas microbianos – por exemplo, bactérias como Bacillus thuringiensis; Protetores incorporados em plantas – cultivos geneticamente modificados que produzem compostos de defesa contra pragas; Pesticidas bioquímicos – substâncias naturais como feromônios ou extratos vegetais [1].

Suas vantagens são convincentes e amplamente respaldadas pela ciência. Muitos biopesticidas se degradam rapidamente no meio ambiente, reduzindo a acumulação de resíduos no solo e na água. Um estudo publicado na revista Plants destaca sua baixa toxicidade para seres humanos e fauna, tornando-os ideais para uma agricultura mais sustentável. Por exemplo, esses produtos geram menos resíduos perigosos e tendem a causar menor impacto sobre organismos não alvo, quando comparados a alguns pesticidas sintéticos. [2]. Na América Latina, onde a biodiversidade é extremamente rica, microrganismos e plantas endêmicas fornecem matérias-primas para o desenvolvimento de biopesticidas inovadores, adaptados às pragas e condições específicas da região [2].
No Manejo Integrado de Pragas (MIP), os biopesticidas se destacam como ferramentas complementares. O MIP combina métodos biológicos, culturais, físicos e químicos para otimizar o controle populacional de insetos prejudiciais às lavouras. Uma análise revisada por pares publicada na OJB Sciences mostra que a integração de biopesticidas ao MIP retarda o desenvolvimento de resistência das pragas aos pesticidas químicos e melhora a saúde das plantas a longo prazo. Por exemplo, a rotação entre biopesticidas e produtos químicos evita que as pragas se adaptem, um problema comum quando se utiliza exclusivamente pesticidas sintéticos [3].
No entanto, os biopesticidas não estão isentos de desafios. Eles podem agir mais lentamente do que os produtos químicos e dependem de condições ambientais, como umidade e temperatura, para alcançar eficácia ideal. A identificação precisa das pragas e a aplicação correta são cruciais para obter bons resultados. Apesar disso, sua especificidade é uma vantagem: um biopesticida fúngico pode eliminar apenas um inseto-alvo, protegendo as abelhas e outras espécies essenciais para a polinização.
Na América Latina, instituições como o Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino (CATIE), na Costa Rica, vêm avançando na pesquisa sobre biopesticidas. O trabalho do CATIE em tecnologias agroecológicas, incluindo o biocontrole, promove práticas sustentáveis por meio de estudos aplicados e capacitação profissional.
Crescimento do Mercado e Adoção Atual na América Latina
O mercado de biopesticidas na América Latina está em plena expansão, impulsionado pela demanda por produtos alternativos e pela necessidade de diversificar as ferramentas de manejo de pragas. Dados recentes estimam que o mercado atinja USD 1,85 bilhão em 2025, com projeção de alcançar USD 3,53 bilhões até 2030, o que representa uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 13.8% [4]. O Brasil lidera o mercado, concentrando mais de 40% da participação regional. As vendas de bioinseticidas alcançaram aproximadamente USD 900 milhões em 2023/2024, impulsionadas pelo aumento de pragas como a Helicoverpa armigera [5].
Esse crescimento reflete tendências mais amplas. Na Argentina, as vendas relacionadas à agricultura orgânica superaram USD 840 milhões em 2024, impulsionando o uso de biopesticidas para atender aos padrões de exportação internacionais. O enfoque da Colômbia em microrganismos nativos para o controle de pragas, como a traça-da-batata, destaca a inovação local e o potencial da biotecnologia adaptada às condições regionais [6].
A adoção está crescendo em culturas-chave. Na soja e na cana-de-açúcar do Brasil, mais de 50% dos produtores integram biopesticidas com produtos químicos, o que resulta em melhores rendimentos e maior sustentabilidade. Um estudo publicado na revista Current Plant Biology destaca como essa combinação controla surtos de pragas de forma eficaz, contribuindo para sistemas agrícolas mais resilientes e equilibrados [7].
No entanto, a adoção varia. Embora os pequenos agricultores enfrentem dificuldades de acesso, iniciativas do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) têm contribuído ao promover o uso de biopesticidas próximos à colheita, com o objetivo de reduzir os resíduos químicos nos alimentos[8]. Pesquisas revisadas por pares publicadas na revista Biological Control mostram que os programas de controle biológico geram benefícios sociais, como comunidades mais saudáveis e a conservação da biodiversidade .[9]

A expansão do mercado é impulsionada por mudanças regulatórias e pela pressão dos consumidores. A cada ano, surgem mais eventos sobre biopesticidas e bioinsumos na região, promovendo colaboração e acelerando a inovação, liderados por organizações como o CATIE, a AsoBioCol e o IICA, entre outras. Para sustentar essa expansão, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) locais são fundamentais, aproveitando a biodiversidade da região para criar soluções adaptadas a contextos agroecológicos específicos. No entanto, alcançar esse nível de investimento depende da existência de regulamentações claras, coerentes e previsíveis nos países da América Latina. Também é essencial fortalecer redes interinstitucionais, tanto governamentais quanto não governamentais, que contribuam para construir capacidades técnicas nas autoridades regulatórias e se mantenham atualizadas frente aos rápidos avanços da inovação — compartilhando metodologias e dados entre países.
Eficácia dos Biopesticidas Combinados com Pesticidas Químicos
O maior benefício dos biopesticidas se manifesta quando são integrados aos pesticidas químicos, criando uma defesa robusta contra as pragas ao mesmo tempo em que promovem a sustentabilidade. Essa sinergia aborda o problema da resistência, uma crise global na qual as pragas desenvolvem tolerância aos métodos químicos de controle. Um estudo revisado por pares publicado na revista One Health defende essa mudança em direção ao manejo integrado de pragas, destacando diversos exemplos de aumento da produtividade agrícola ao combinar produtos de controle químicos e biológicos [10].
No Brasil, o surto de Helicoverpa armigera em 2013 devastou diversas lavouras, mas a integração de bioinseticidas com produtos químicos proporcionou um controle mais eficaz. Os agricultores utilizaram biopesticidas à base de Bacillus thuringiensis em conjunto com pesticidas químicos específicos, o que resultou na redução dos surtos e na diminuição do uso excessivo de produtos químicos [11]. Diversos estudos e ensaios de campo confirmam a eficácia dessa combinação, em que os biopesticidas retardam o desenvolvimento das pragas, enquanto os produtos químicos proporcionam um controle rápido e imediato. [12],[13],[14]. O Marco de Gestão Sustentável de Pesticidas da CropLife (SPMF, na sigla em inglês) promove abordagens holísticas e o manejo integrado de tecnologias agrícolas para o controle de pragas. Na América Latina, esse programa é conhecido nas redes sociais sob o nome #AgriculturaSostrenibleEnAccion, onde se destacam projetos realizados no Chile, na Colômbia e na Guatemala [15].
Estratégia Regulatória para Superar Barreiras aos Biopesticidas
Apesar do seu potencial, ainda existem barreiras que dificultam a adoção dos biopesticidas na América Latina. Altos custos, disponibilidade limitada e regulamentações complexas estão entre os principais desafios. Especialistas da região concordam que a acessibilidade e a escassez de oferta limitam o acesso dos agricultores a essas tecnologias. Além disso, os obstáculos regulatórios retardam as aprovações, como se observa na América do Sul, onde o processo de harmonização normativa ainda está atrasado[16]. As lacunas de conhecimento também persistem: muitos agricultores carecem de capacitação na integração de tecnologias. Um estudo publicado na revista CABI Reviews identifica a disponibilidade limitada de biopesticidas como um obstáculo importante para sua adoção em larga escala [17]. Os países da América Latina podem atualizar seus marcos regulatórios, fortalecendo-os com modelos semelhantes aos do Brasil e da Argentina, que podem se tornar referências regionais.
Essa convergência regulatória tem potencial para acelerar os investimentos e impulsionar a adoção de biopesticidas em toda a região.
Conclusão
Ao abordar os pontos aqui descritos, a América Latina poderá multiplicar as taxas de adoção de biopesticidas, ao mesmo tempo em que acelera a introdução de novas tecnologias químicas, promovendo maior produtividade e sustentabilidade. Acelerar a adoção de biopesticidas e de pesticidas químicos modernos na América Latina é essencial para alcançar uma agricultura produtiva e sustentável. Essa estratégia baseada em ciência protege as lavouras, o meio ambiente e as comunidades, garantindo a segurança alimentar e contribuindo para um futuro agrícola mais resiliente.
[1] Ayilara MS, Adeleke BS, Akinola SA, Fayose CA, Adeyemi UT, Gbadegesin LA, Omole RK, Johnson RM, Uthman QO, Babalola OO. Biopesticides as a promising alternative to synthetic pesticides: A case for microbial pesticides, phytopesticides, and nanobiopesticides. Front Microbiol. 2023 Feb 16;14:1040901. doi: 10.3389/fmicb.2023.1040901. Erratum in: Front Microbiol. 2024 Jan 03;14:1258968. doi: 10.3389/fmicb.2023.1258968. PMID: 36876068; PMCID: PMC9978502.
[2] Kumar J, Ramlal A, Mallick D, Mishra V. An Overview of Some Biopesticides and Their Importance in Plant Protection for Commercial Acceptance. Plants (Basel). 2021 Jun 10;10(6):1185. doi: 10.3390/plants10061185. PMID: 34200860; PMCID: PMC8230470.
[3] Samada, L. H. & Tambunan, U. S. F. (2020). Biopesticides as Promising Alternatives to Chemical Pesticides: A Review of Their Current and Future Status. OnLine Journal of Biological Sciences, 20(2), 66-76. https://doi.org/10.3844/ojbsci.2020.66.76
[4] Latin America Biopesticides Market Size & Share Analysis – Growth Trends & Forecasts (2025 – 2030). Mordor Intelligence, seen October 24th, 2025. https://www.mordorintelligence.com/industry-reports/latin-american-biopesticides-market-industry
[5] The Bioinsecticide Boom: Brazil’s Answer to Corn Pest Challenges. AgNews, Sep. 4, 2024. https://news.agropages.com/News/NewsDetail---51322.htm
[6] Suarez-Rubio, Marcela & Suárez, Marco. (2005). The use of the copepod Mesocyclops longisetus as a biological control agent for Aedes aegypti in Cali, Colombia. Journal of the American Mosquito Control Association. 20. 401-4.
[7] Felipe de Lima Andreata M, Mian S, Andrade G, de Freitas Bueno A, Ventura MU, Marcondes de Almeida JE, Fonseca Ivan EA, Mosela M, Simionato AS, Robaina RR, Gonçalves LSA. The current increase and future perspectives of the microbial pesticides market in agriculture: the Brazilian example. Front Microbiol. 2025 Aug 11;16:1574269. doi: 10.3389/fmicb.2025.1574269. PMID: 40862135; PMCID: PMC12375563.
[8] The STDF and IICA launch project to promote reduced pesticide residue in agricultural exports from 12 Latin American and Caribbean countries, and to facilitate international trade. IICA, Feb 23, 2023. https://iica.int/en/press/news/stdf-y-el-iica-lanzan-proyecto-para-promover-en-12-paises-de-america-latina-y-el-2/
[9] Colmenarez, Y.C., Vasquez, C. Benefits associated with the implementation of biological control programmes in Latin America. BioControl 69, 303–320 (2024). https://doi.org/10.1007/s10526-024-10260-7
[10] Cai P, Dimopoulos G. Microbial biopesticides: A one health perspective on benefits and risks. One Health. 2024 Dec 29;20:100962. doi: 10.1016/j.onehlt.2024.100962. PMID: 39867997; PMCID: PMC11762943.
[11] Aline Pomari-Fernandes, Adeney de Freitas Bueno, Daniel Ricardo Sosa-Gómez. Helicoverpa armigera: current status and future perspectives in Brazil. Current Agricultural Science and Technology 21 (2015) 1-7. http://dx.doi.org/10.18539/cast.v21i1.4234
[12] Perini, C. R., Arnemann, J. A., Melo, A. A., Pes, M. P., Valmorbida, I., Beche, M., & Guedes, J. V. C. (2016). How to control Helicoverpa armigera on soybean in Brazil? What we have learned since its detection. African Journal of Agricultural Research, 11(16), 1426-1432.
[13] Malinga LN, Laing MD. Efficacy of Biopesticides in the Management of the Cotton Bollworm, Helicoverpa armigera (Noctuidae), under Field Conditions. Insects. 2022 Jul 27;13(8):673. doi: 10.3390/insects13080673. PMID: 35893028; PMCID: PMC9332838.
[14] Krismawati, A. et al. A bibliometric analysis of biopesticides in corn pest management: Current trends and future prospects. Heliyon, 2024. https://doi.org/10.1016/j.heliyon.2024.e40196
[15] Agricultura sostenible en acción: Autoridades y gremios coinciden en la importancia de aplicar MIP en la Agricultura Familiar Campesina. CropLife Latin America, 2025. https://croplifela.org/es/sostenibilidad-y-desarrollo/agricultura-sostenible-en-accion-autoridades-y-gremios-coinciden-en-la-importancia-de-aplicar-mip-en-la-agricultura-familiar-campesina.
[16] Togni, Pedro & Lagôa, Ana & Sujii, Edison & Venzon, Madelaine & Victor, João. (2023). Biopesticides in South America: Regulation and commercialization. 10.1016/B978-0-323-95290-3.00010-8.
[17] Marrone, Pamela. (2007). Barriers to adoption of biological control agents and biological pesticides. Cab Reviews: Perspectives in Agriculture, Veterinary Science, Nutrition and Natural Resources. 2. 10.1079/PAVSNNR20072051















